De volta ao nosso país, e depois de 2 semanas de readaptação às rotinas, penso ser a altura de fazer o esperado apontamento final, acerca da nossa última viagem, que nos levou de regresso ao fantástico continente sul americano que, pela sua beleza e pelos episódios lá
vividos, nos deixa sempre a vontade de lá voltar.
Apetece-me começar com a transcrição dos dois parágrafos iniciais do apontamento referente à viagem do ano passado, pois reflectem bem, para mim, o que foi vivido nestes dias, que confirmam o excelente ambiente que existe no seio dos veteranos do Clube de Rugby de Juromenha.
“Esta viagem, recheada de episódios e momentos inesquecíveis, ficará, decerto, para sempre guardada na memória de todos os participantes, e registada na história do Clube de Rugby de Juromenha como um dos mais determinantes momentos da sua já longa história.
O excelente ambiente sempre vivido, proporcionado por um comportamento irrepreensível da parte de todos, onde o clima de amizade foi insuperável e difícil de descrever, foi um factor preponderante para o sucesso alcançado.”
O ponto de encontro, ocorreu ao final da tarde do dia 3 de Novembro, no aeroporto da Portela, para onde começaram a convergir todos os intervenientes, procedentes dos mais variados sítios, desde Viana do Castelo, ao Porto, Coimbra, Cascais, Lisboa, Elvas, Évora, Faro e Juromenha, e que deram um animado colorido amarelo àquele local. Logo aí, deu para entender o ambiente de amizade que seria vivido nos dias seguintes, com uma rápida e fácil integração daqueles que, pela primeira vez, faziam parte do grupo.
Antes de embarcar, e no meio de alguns telefonemas a desejar uma boa digressão, entre eles do Sérgio Ferreira, que este ano não nos pôde acompanhar, houve um que não quero deixar de referir, do nosso amigo Amândio Figueiredo, que telefonou a dizer que “em Coimbra já se
soa que andam a cantar à alentejana nos corredores do aeroporto”. E foi, na verdade, entre muitas cantorias e boa disposição, que se passaram estes inesquecíveis dias.
Chegámos a Buenos Aires ao final da manhã do dia 4 de Novembro, dirigindo-nos ao Hotel Presidente, onde, ao fim de algum tempo, já tínhamos a companhia do Luís Sarmento, que se encontra a viver naquela extraordinária cidade, e que conhecêramos em Junho último, em Caernarfon, País de Gales, por ocasião do X European Golden Oldies Rugby Festival, onde defrontámos a equipa que agora representa, Gymnasia y Esgrima de Buenos Aires. O Luís foi um excelente anfitrião, tendo-nos sempre acompanhado na nossa estadia na capital Argentina.
O 1º. dia foi dedicado ao turismo, em que cada um optou pelo seu destino, ficando agendado um encontro ao início da noite, na já nossa bem conhecida Plaza Serrano, para daí partirmos para a ronda nocturna, ou não fosse Buenos Aires, “la ciudad que nunca dorme”.
No dia seguinte, fizemos um agradável passeio de barco pelo delta do Rio Tigre, que culminou com um excelente almoço no “Gato Blanco”, localizado numa das bonitas ilhas do delta. Ao final da tarde
estava programada uma visita á residência do Exmo. Embaixador de Portugal em Buenos Aires, Dr. Joaquim Ferreira Marques, que nos brindou, uma vez mais, com uma inesquecível recepção. Daqui fomos matar saudades a “La Recoleta”, zona mais animada da “movida” local, numa noite bem mais curta, pois no dia seguinte, tínhamos o nosso primeiro compromisso desportivo…
Sábado, 6 de Novembro, antes do encontro com o GEBA, fomos visitar a Casa de Portugal Virgem de Fátima, localizada em Villa Elisa, nos arredores de Buenos Aires. Este encontro foi promovido pelo Sr. António Canas, Conselheiro das Comunidades Portuguesas da Argentina, e pela Direcção desta Associação, que comemorou este ano 29 anos de vida. Foi mais um emotivo momento da nossa viagem, à semelhança do vivido no ano passado na “Asociacón Portuguesa Valle del Chubut”, onde muito nos sensibilizou o amor que devotam ao nosso País.
É, para todos nós, um exemplo, o trabalho efectuado por esta Associação, sendo digno de registo as instalações que possuem, e como conseguem, apesar da distância, manter um tão grande vínculo a Portugal e às suas tradiçóes. O excelente almoço que nos ofereceram, foi abrilhantado com uma actuação do Rancho Folclórico, constituído na sua totalidade por jovens luso descendentes, cuja maioria nunca visitou o nosso país, mas que ostentam o orgulho da “portucalidade”. O nosso agradecimento ao Presidente, sr. Carlos Monteiro, ao srs. Analido Amaro, António Oliveira, Fernando Costa e a todos, sem excepção, pela recepção com que nos brindaram, e pelo ânimo que nos incutiram para o jogo que iríamos disputar ao final da tarde.
À tardinha dirigimo-nos para o complexo desportivo do Gimnasia y Esgrima de Buenos Aires, clube que comemorou recentemente os 130 anos de existência, e cuja secção de Rugby apresenta a bonita idade de 102 anos. Num magnífico parque desportivo, preenchido por piscinas, ginásios, campos de ténis, de squash, de hóquei, espaços lúdicos, foi-nos dada a honra de jogar no seu principal campo de Rugby, um local cheio de simbolismo, pois foi aí que a conhecida selecção argentina “Los Pumas”, efectuaram o seu primeiro encontro internacional. Contávamos com alguns reforços, de algumas equipas que defrontáramos no ano passado, mas que, infelizmente, não puderam comparecer, pelo que no início do encontro apenas tínhamos 16 jogadores disponíveis. Foi um emotivo jogo de veteranos, com muito fair play e muitos ensaios, em que a entreajuda dos elementos da nossa equipa, que teve de recorrer ao auxilio do Luís Sarmento e de outro elemento do GEBA, para substituirem os nossos lesionados Luís Miguel Bagulho, Rui Estevens e Francisco Moita, foi fundamental para o bom
desempenho conseguido. A 3ª. parte teve lugar junto ao estádio e, daí, partimos para a noite de despedida de Buenos Aires.
De Buenos Aires, fantástica cidade, onde espero voltar um dia, entre muitas memórias, trago uma recordação que muito prezo, um livro de contos de Rugby, escrito por um Homem do Rugby, Marcelo Mariosa, que teve a amabilidade de mo deixar na recepção do Hotel. Não tive oportunidade de estar com ele, mas agradeço-lhe sinceramente a oferta do livro “Pequenos Cuentos e Histórias de Gente de Rugby”, que, no fundo, reflectem um pouco as histórias que aqui estou a contar. Apesar de não o conhecer pessoalmente, é amigo dum amigo, Ricardo Di Sipio, e um Homem do Rugby, pelo que será um amigo para a vida!
Na manhã seguinte, rumámos em direcção a Mendoza, onde à chegada ao aeroporto, tínhamos a receber-nos uma comitiva dos “Tortugas del Cuyo”, equipa que iríamos defrontar no dia seguinte, e que foram inexcedíveis no acompanhamento que nos fizeram. À chegada fomos confrontados com uma temperatura a rondar os 40 graus, mas uma tempestade que ali denominam de “viento zonda” , veio alterar completamente as condições climatéricas, do próprio dia e do dia seguinte, com um acentuado abaixamento da temperatura. Nessa tarde, apesar do mau tempo que se fazia sentir, ainda deu para assistir ao encontro de veteranos entre a equipa francesa, Archiball de Bordéus,
e os Veteranos de Mendoza.
Dia 8 de Novembro, reuniu-se ao grupo o Manuel Costa, vindo de Lisboa, após uma longa viagem, cheia de peripécias e constantes atrasos, mas que lhe permitiram chegar a tempo do jogo, e o Roberto Baez, que recentemente regressou ao seu país, e à sua cidade, San Juan, de onde veio acompanhado pelo Gustavo Echegaray.
Nessa noite, realizou-se o encontro entre o C.R.J. e os “Tortugas del Cuyo”, agremiação que engloba atletas das 3 regiões que constituem a Província de Cuyo, Mendoza, San Juan e San Luis. Esta equipa sagrou-se recentemente campeã da Argentina de veteranos, o que atesta bem da sua qualidade, pois não nos podemos esquecer que este país tem uma grande cultura de Rugby, tendo a sua selecção obtido um brilhante 3ª. lugar no último Campeonato deo Mundo.
O encontro, que teve honras de cobertura televisiva, para o programa “Cuarto Try”, do Canal 7, de Mendoza, foi disputado a um excelente nível, com uma entrada fulgurante da equipa argentina, a justificar o porquê de serem campeões da Argentina. A nossa equipa, aos poucos, foi equilibrando o jogo, mercê duma excelente capacidade defensiva, tendo mesmo igualado a partida, no início da 2ª. parte. Os nossos adversários acabaram por conseguir um ensaio, nos instantes finais da partida, que lhe daria a vitória, mas eles próprios foram unânimes em reconhecer a óptima prestação da nossa equipa. A 3ª. parte teve lugar na bonita sede dos Tortugas, cheia de história e recordações, onde ficarão para sempre, o símbolo do nosso Clube e os ecos do enorme jogo que ali fizemos.
Quero deixar um agradecimento ao Carlos “Chocolate” Castillo, Martin Calle, Gonzalo Carballo e Daniel Ramirez, por nos terem dado a honra de jogar pelos “amarelos”, e fazer uma menção a 2
factos que marcaram o jogo, a possibilidade de voltar a jogar com o meu amigo Roberto, o que não acontecia desde Maio de 2009, no “VI Tournoi Rugby des Chants”, em Bordères sur l´Echez, França, e a entrada em campo do Manuel Costa, grande figura do Rugby português, que nos deu a honra da sua companhia, e que ainda teve forças, depois da longa e atribulada viagem, para vestir os calções e partilhar o campo connosco.
Do rescaldo deste encontro, a alegria do convite que foi endereçado ao nosso amigo Roberto Baez, para integrar os “Tortugas del Cuyo”, que assim levará parte do Clube de Rugby de Juromenha, para aquela Associação, onde deixámos tantos amigos, desde o seu Presidente, Rodolfo “Frances” Ruiz, ao Federico Zárate, Lucho, Daniel “Turco”, Roberto Arriaga, Hugo Ozán, Santiago Segovia,Carlos “Chocolate”, que esperamos voltar a ver na viagem que têm agendada para 2012 a Espanha e Portugal, e onde esperamos poder retribuir tudo o que fizeram por nós.