DIGRESSÃO ARGENTINA/CHILE – APONTAMENTO FINAL #2

No dia 9 de Novembro, à hora combinada, o autocarro que tínhamos alugado para os últimos dias da nossa viagem, foi-nos recolher à porta do “San Lorenzo Apartments”, para nos transportar à tão esperada travessia dos Andes. Mas primeiro, estava agendada uma visita à “Finca Flichman”, propriedade do grupo “Sogrape”, que nos quis obsequiar com essa visita e com um almoço, que tanto nos viria a marcar e que, decerto, nenhum de nós virá a esquecer. À chegada, tínhamos a
esperar-nos a simpática Mariana Pronce, que nos guiou na visita a este fantástico espaço, verdadeira prova do sucesso do empresariado português no estrangeiro, que alia a magnificência do lugar à excelência dos seus produtos. Antes do almoço, onde já fomos acompanhados pela Directora de Marketing, Maria Hom, outra digna representante da simpatia e beleza da mulher argentina, tivemos
oportunidade de fazer uma degustação dos excelentes vinhos que são produzidos na Finca Flichman, “Misterio”, “Caballero de la Cepa” e “Gestos”,  que aconselho vivamente a provar. Terminado o excelente almoço, que a maioria não queria que acabasse, e depois das fotos da praxe, chegou a hora de nos fazermos à estrada, para uma viagem inesquecível, através da Cordilheira dos Andes.

A travessia da Cordilheira dos Andes é algo de extraordinário, com paisagens de cortar a respiração, proporcionando momentos mágicos que jamais esqueceremos, como a passagem por “Puente del Inca” ou quando tivemos a possibilidade de contemplar o monte Aconcágua – “Sentinela de Pedra”, que do alto dos seus 6962m, representa o ponto mais alto das Américas, de todo o Hemisfério Sul e o mais alto fora da Ásia.

Outro momento por que todos ansiávamos, era a entrada na República do Chile, país que nenhum de nós conhecia, e que a todos, no final da viagem, deu vontade de voltar um dia. Infelizmente, as
formalidades burocráticas na fronteira foram bastantes morosas, o que fez com que a entrada no país já se desse de noite, e a consequente viagem de descida dos Andes chilenos, pela famosa estrada dos “Caracoles”, assim denominada pelo constante serpentear que desenha , não pudesse ter sido contemplada do modo que desejaríamos.

Chegámos a Santiago do Chile já bastante tarde, a tempo apenas de comer qualquer coisa e ir descansar para nos prepararmos para o dia seguinte, que teria uma agenda bastante preenchida.

Na manhã seguinte, saímos do Hotel Neruda, localizado no Bairro de Providencia, à descoberta da cidade, que nos surpreendeu pela sua beleza e vivacidade. Dirigimo-nos então ao Bairro de “Bella Vista”, verdadeiro centro cultural da cidade, onde visitámos “La Chascona”, uma das casas do poeta Pablo Neruda, prémio Nobel da Literatura em 1971 e um dos mais notáveis cidadãos chilenos de sempre. O almoço teve lugar no lindo “Mercado Central”, após o qual visitámos o centro da cidade, com passagem pela monumental “Plaza de Armas”.

No final da tarde, a comitiva do Clube de Rugby de Juromenha, teve a honra de ser recebida na residência do Exmo. Embaixador de Portugal em Santiago do Chile, Dr. José Manuel Paes Moreira, localizada num bairro nobre, na região noroeste da cidade, chamado la Dehesa. Nesta emocionante reunião, foi entregue ao Sr. Embaixador, uma camisola autografada do Clube de Rugby de Juromenha, que posteriormente será entregue ao Sr. Ministro das Minas do Chile, Lawrence Golborne, como
forma de uma reconhecida homenagem do nosso Clube, e também da comunidade rugbística portuguesa, ao feito histórico dos 33 mineiros da Mina de S.José, em Copiapó.

Dia 11, pela manhã, partimos para uma longa viagem, em direcção a Villarrica, local onde se iria disputar o ” I Chilean Golden Oldies Rugby Festival”. À saída de Santiago, ainda houve tempo para uma paragem no Palácio de La Moneda, sede da Presidência da República do Chile, uma fantástica construção da era colonial. A já prevista longa viagem, acabaria por ter ainda um desvio, para nos permitir uma visita ao Oceano Pacífico, e às praias de Viña del Mar, Valparaiso e Reñaca, onde acabaríamos por almoçar. Daqui, foi uma longa e cansativa viagem de autocarro, com paragem para pernoitar enm Chillán, perto de Talca, cidades localizadas cerca do epicentro do terramoto do início deste ano, sendo ainda bem visíveis as consequências deste devastador desastre.

Chegámos finalmente a Villarrica, ao início da tarde do dia 12, e logo pudemos constatar a beleza deste local, dominado pela excelência e grandiosidade do seu Vulcão. Ficámos instalados no” Pines Lake Resort”, numas bonitas cabanas situadas junto ao Lago Villarrica.

Nessa noite, teve lugar a recepção do Torneio, no Grande Hotel de Pucón, localizado nas margens do lago. A festa de abertura, denominada “Fiesta de la Camisa Blanca”, decorreu num clima de muita animação, com o ponto alto a ser constituído por uma magistral “performance” do Haka de Juromenha.

No dia 13, sábado, realizou-se o esperado Torneio, no Oxford School, em Villarrica, que dispõe de 2 excelentes relvados.

Defrontámos, no primeiro encontro, a equipa “Old Gold”, de Santiago, jogo em que se fez sentir o desgaste da longa viagem da véspera e a veterania da nossa equipa, com uma média de idades bastante superior a 40 anos, a contrastar com as restantes, a maioria a apresentar elementos com menos de 30 anos, ponto negativo a apontar à organização. Mesmo assim, e apesar das lesões que foram surgindo, conseguimos efectuar um bom jogo, obtendo 2 bons ensaios por
intermédio da nossa “gazela”, Miguel Jonet. No 2º. encontro, onde pudemos contar com os reforços dos nossos amigos de Mendoza, Carlos “Chocolate”, Gallego, Jorge e Turco, que substituiram os nossos lesionados, fizemos uma excelente partida e conseguimos superiorizar-nos  aos “Old Sharks”, de Talca. No jantar de encerramento , onde foi servido um “asado patagónico”, a fazer lembrar o que nos foi oferecido no passado ano em Trelew, fez a delícia dos presentes o “Licor Beirão”, que nos foi oferecido pelo nosso amigo José Redondo. O ambiente de festa terminou ao som de cânticos
alentejanos, com os elementos do C.R.J. a serem os últimos a abandoná-la, pois ninguém queria acreditar que o dia seguinte, seria dia do regresso.

E assim foi, na manhã seguinte, fizemo-nos novamente à estrada, após uma emotiva despedida do nosso amigo Roberto Baez, a quem todos desejamos as maiores felicidades neste seu regresso à Argentina, e também dos amigos de Mendoza, que esperamos poder receber no nosso
Torneio de 2011 ou 2012.

Esse dia foi passado na estrada, servindo a alguns para um merecido repouso e a outros para uma competição “non stop” de cartas, onde o Edal conseguiu a inultrapassável proeza de perder sempre.

Chegados a Santiago do Chile, hospedámo-nos no Hotel España, de má memória, e fomos para o Bairro de Bella Vista, para o último jantar, que teve lugar no restaurante “Como Água para Chocolate”, um bonito local, a fazer jus ao nome do livro de Laura Esquivel.

Finalmente, a partida do aeroporto de Santiago, com a bebida de despedida no bar “The Last Pisco Sour”, mas onde, infelizmente, não havia esta bebida, que nos deliciou durante a nossa estadia no Chile, apesar de me parecer tratar-se dum bebida peruana…Será que esclarecer esta pequena dúvida, é motivo para uma futura digressão ao Perú?!

Numa viagem com tantas peripécias, e com tantos momentos inesquecíveis, era impossível enunciá-los todos, mas eles ficarão, certamente, gravados nas memória de todos os que participámos e, claro, nas dos amigos que por lá deixámos. Haverá sempre histórias para recordar, e são estas que nos dão vontade de continuar a organizar estas viagens. Uma delas, não posso deixar de a mencionar, ocorreu durante o período do almoço do Torneio de Villarrica, quando avistei um indivíduo, que não conhecia, Ricardo Marchesse “Raviol”, com uma t.shirt do Torneio de Veteranos de Évora de 2005, organizado pelos Veteranos do Alentejo, a cuja direcção eu pertencia. Dirigi-me a ele e perguntei-lhe, em tom de brincadeira, se queria trocar de camisola comigo; ficou um pouco incrédulo, até que lhe transmiti que
tinha sido um dos organizadores desse Torneio, em Portugal, e que estava um pouco estupefacto por ver a camisola desse Torneio a tantos milhares de quilómetros de distância. Tinha sido o seu, e meu, amigo Guillermo Vambrie, argentino da sua cidade, Junin, actual treinador do C.R.Badajoz e antigo atleta do C.R.Juromenha, que lha tinha oferecido, e confessou-me que só a vestia em ocasiões especiais É por estas situações que o Rugby é tão diferente de todos os outros desportos.

Para terminar, quero deixar uma palavra de agradecimento a todos, sem qualquer excepção, onde gostaria de incluir o Lucas e o Ariel, excelentes profissionais, que entraram neste grupo como condutor e assistente do autocarro, e saíram como verdadeiros amigos.

Ao Eduardo e ao João Cunha, grandes repórteres; ao Edal, pelo sorriso com que sempre respondeu às nossas constantes investidas; ao Fábio, “caçula” do grupo, mas que tão bem se integrou; ao Ludgero, “fuzileiro sem medo”, a quem as gélidas águas do Pacífico, não impõem qualquer tipo de receio; ao Domingos, baptizado pelo Fintas, “o mágico”, sabe-se lá por quê; ao Bota Luz, o “nosso artista”, sempre a passear classe; ao Cajó, provavelmente o nosso melhor jogador nesta digressão; ao Bagulho e ao João de Deus, “alentejanos de raça” de Elvas, que nunca viram a cara à luta; ao Miguel Jonet, “a gazela”, que além da sua velocidade de ponta, demonstrou ter ainda capacidade para corridas de fundo; ao Luís Geraldo, Nuno Carido, Paulo Leal, RuI Estevens, que tão bem se estrearam com a “amarela”; ao Manuel Costa, pelo esforço que fez para se juntar a nós; ao Fintas, pela magia dentro de campo, mas a necessitar de alguns conselhos do “mágico”; ao Moita, o nosso “velhinho”, que para o ano já veste calções amarelos, mas que em campo, e fora dele, parece um juvenil; e, finalmente, ao Xixico, por toda a disponibilidade, sempre presente, e pela amizade que a todos irradia, o meu muito obrigado por me terem acompanhado em mais este momento histórico da vida do CLUBE DE RUGBY DE JUROMENHA.
 TENHO NO QUINTAL UM LIMOEIRO…

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